Impossível escrever o que estamos vivendo esses dias aqui até chegarmos no Congo em poucas linhas. Primeiramente quero dar toda honra, glória e louvor ao Senhor. Não existe nada em nós a ser honrado.
Saímos de viagem na segunda feira dia 01, pernoitando nosso primeiro dia em Magochi no Malawi. Dos 710km, 300km de estradas muito ruins. Nosso carro pulou tanto devido aos buracos que a bateria arrebentou do suporte e quebrou o fio terra que a impediu de funcionar por duas vezes. Isso no meio do nada, estrada de terra. Conseguimos consertar. Na fronteira do Malawi, havia acabado os selos de vistos para se colar nos passaportes e recebemos apenas uma autorização de entrada, tendo que tratar o visto na capital Lilongwe, no dia seguinte, o que não constava nos nossos planos. Em cada fronteira é uma burocracia é uma demora sem fim. Diversos documentos, principalmente do carro que tem que passar por um processo de exportação provisória. Acordamos na terça e tivemos de esperar abrir a embaixada para tratar os vistos. Resolvemos tudo e partimos até cruzarmos a fronteira de Chipata, já na Zâmbia, onde dormimos a segunda noite. No dia seguinte partimos e tivemos de alterar nossa rota devido à péssima situação das estradas. Nosso caminho nos fez desviar até a capital da Zâmbia, Lusaka, onde pernoitamos nossa terceira noite. Lusaka é uma cidade enorme, com dezenas de cassinos e hotéis luxuosos. Demoramos muito para encontrarmos um lugar em conta para dormirmos. Fomos dormir as 1:00 da manhã, num bairro cheio de prostituição. Na quinta de manhã saímos da Zâmbia em direção ao Congo. Chegamos no final da tarde em Cachumbalessa, cidade fronteiriça entre Zâmbia e Congo. Até aqui, tivemos uma viagem tranquila, apenas com alguns trechos longos de estrada ruim, muitas paradas nas polícias, mudanças de rotas e demora nas atividades burocráticas das fronteiras (cada uma exige vários documentos tanto para nós como para o veículo). Detalhe: era eu quem tinha de tratar tudo em inglês, e o meu é bastante limitado. Em Cachumbalessa começou nossa grande batalha. O lugar é assustador. Longe de tudo, com centenas de pessoas espalhadas pelas ruas dos dois lados. Vendedores, negociantes, traficantes de pedras, cambistas, prostitutas, bêbados (muitos bares), centenas de crianças pobres (inclusive órfãs de guerra que vivem na fronteira) e tudo muito feio e sujo. Quando paramos o carro já fomos abordados por 5 homens jovens, querendo nos acompanhar em troca de dinheiro. Brigando entre eles para ver quem conseguia nosso favor. Devido às experiências que temos em Moçambique tentamos dispensá-los por diversas vezes, mas não conseguimos, o que foi nos irritando. Já estava escurecendo, essa época em África escurece 17hs. Não sabíamos se deixávamos um no carro tomando conta enquanto outros iam tentar tratar os documentos, se levávamos as malas, se deixávamos o carro, enfim. Conseguimos em aproximadamente 30 minutos a liberação para sairmos da Zâmbia, sendo que tive de passar por uma interrogação e revista por parte da Interpol a respeito do carro. Atravessamos o portão da fronteira de saída e entramos na parte para tratar o visto de entrada no Congo. Os caras que nos seguiam continuavam nos incomodando e tinham livre acesso aos dois lados da fronteira. Entravam e saíam como quisessem, ninguém falava nada. Tudo completamente sem lei. A noite já tinha caído e tinha muita pouca luz, com muita, mas muita gente fazendo negócios de todo tipo, legais e ilegais ali. Éramos um espetáculo à parte pois éramos os únicos brancos. Todos nos olhavam, muitos nos seguindo com expectativa de darmos alguma coisa, gente aglomerando o tempo todo nos pedindo dinheiro. O tempo todo andávamos preocupados, com as malas, documentos, carteiras. Nossa experiência em África nos remete a diversas vezes que já fomos roubados em lugares assim. Entramos no escritório alfandegário do Congo, a sensação é como se estivéssemos entrando numa sauna. A atmosfera espiritual do lugar é de densas trevas. Não sabíamos como fazer, e ali o inglês já não adiantava muito pois a língua era o francês. Homens armados com metralhadoras, gritando. Muçulmanos entrando com todo tipo de bagagem. Dinheiro sendo entregue uns aos outros descaradamente para realização de coisas ilegais. Não encontramos uma pessoa sequer educada para nos ajudar em absolutamente nada. Todos nos olhando e cochichando em dialetos locais. Tudo movido a dinheiro corrupto e sujo. Um dos jovens (Gracia) nos puxou e nos levou para uma sala, como se tivesse nos tirando de uma fila para nos dar atendimento especial. Ele falava inglês. Avisou o chefe da fronteira e nos mandou sentar. Ele parecia fazer parte de todo esquema pois não era funcionário de nada mas tinha acesso a tudo. O chefe também graças a Deus falava inglês. Expliquei que precisávamos do visto, ele pegou nossos passaportes e em menos de um minuto falou: impossível, vocês não podem entrar aqui. Precisam voltar a Moçambique e tirar o visto lá. Tentei explicar a ele o caso e ele começou a rir. Disse coisas ruins sobre o Brasil e disse que era ele quem mandava ali e que não ia nos deixar entrar em hipótese alguma. Na mesma hora entraram dois muçulmanos de barbas grandes, de batas, túnicas e entregaram dinheiro corrupto na mão do cara, que na mesma hora carimbou seus passaportes. Ele nos mandou sair e perguntei pela última vez o que nós poderíamos fazer, ele disse: nada, volte para o seu país. Eu falei: vou orar por você essa noite, somos servos de Deus, missionários e foi Ele quem nos enviou aqui. Vamos voltar amanhã. Eles saíram rindo e falando uns com os outros: Servos de Deus??? Kkkkk. Quando saímos do escritório é que fomos dar conta do que nos esperava. Já tínhamos dado saída da Zâmbia e não podíamos voltar, e não conseguimos entrar no Congo. Nosso carro estava preso no estacionamento do Congo e não sairia mais aquele dia e não podíamos entrar na Zâmbia também porque já tínhamos o visto de saída. Corremos até o escritório da Zâmbia, e a última funcionária do local, depois de muito custo conseguiu cancelar nosso visto de saída, mas estávamos sem carro, presos dentro do espaço do Congo. Já estava escuro nesta hora. Os homens ainda conosco, cada um dando um palpite diferente. Gracia, o que parecia ser o líder, nos sugeriu pegarmos um táxi e ir para uma pousada próxima. Disse que no outro dia a gente poderia tentar o visto em Ndola, uma cidade a 170km de onde estávamos. Parecia impossível, mas seria nossa única chance. Decidimos pegar um táxi, e já ir direto à noite mesmo para Ndola, com expectativa de já acordamos lá no outro dia. Achamos um táxi, onde estava o Abraão, um irmão que foi o primeiro anjo que o Senhor colocou no nosso caminho. Ele nos levou até Ndola (170km), nos ajudando em todo o tempo. Fomos parados só nesta noite 3 vezes pela polícia. Passamos um tempo da noite em oração, dormimos e no dia seguinte fomos cedo a Embaixada do Congo na Zâmbia. Abraão nos acompanhando o tempo todo, nos ajudando em tudo. Assim que chegamos na embaixada a moça da recepção falou: vocês não podem tirar esse visto aqui, é impossível, só quem reside na Zâmbia. Perguntei se não tinha alguém com quem eu pudesse falar, ela disse só o cônsul, que chegaria às 9. Esperamos, ele nos recebeu e disse a mesma coisa. Impossível, não posso fazer nada por vocês. A partir dali, fui tocado por Deus que eu não deveria mais tentar ficar pedindo nem tentando fazer nem falar mais nada, apenas orar e pregar a palavra. Comecei então a falar de Jesus para ele, o plano da salvação, o que Cristo fez por mim e sobre o seu amor. Preguei por uns 5 minutos para ele, tudo no meu limitadíssimo inglês. Depois pedi para orar por ele, porque iríamos embora para Moçambique. Ele fechou os olhos, orei e assim que eu terminei ele nos disse: vou abrir uma exceção para vocês, voltem daqui a 30 minutos que eu liberarei os passaportes com os vistos, vocês só precisarão do carimbo na fronteira. Escreveu o telefone pessoal dele num papel e me deu dizendo: me ligue quando entrarem no Congo. Voltamos depois, pegamos os passaportes e partimos novamente em direção à fronteira, (170km de volta). Fizemos todo o procedimento de saída da Zâmbia novamente e fomos tranquilos para o espaço de entrada no Congo. Os jovens que tinham ficado nos seguindo já nos viram chegando e já estavam lá nos perturbando de novo. Pr. Junior mandou eles irem embora, eles continuaram, ele mandou de novo e o Gracia (líder deles) ficou muito nervoso. Começou a nos ameaçar falando coisas horríveis, com um olhar de ódio indescritível. Tentei acalmá-lo e nada, tentei apertar sua mão como sinal de paz e ele me empurrou. Fui pregando e falando pra ele sobre o príncipe da paz. Houve uma hora que fui tentar tocá-lo e quando o fiz tomei um choque terrível, coisa mais doida. Até ele se assustou, os olhos cheios de sangue e ódio. Pedi aos irmãos para que ficassem em oração. Entramos novamente na sala e o chefe pegou nossos passaportes e novamente nos falou: eu avisei que vocês não iriam entrar. Eu não falei nada com ele, apenas comecei a pregar de novo. Ele queria mais 25 dólares de cada um, dizendo que ninguém entra ali sem dinheiro, continuamos a falar do amor de Deus. Ele pegou nossos cartões de vacina e escondeu. E disse para irmos embora. Falamos mais de Cristo e ele saiu da sala enfurecido e almadiçoando o Brasil. Falei com ele: hoje à noite Deus vai tocar o seu coração. Você vai abrir as portas desse lugar para os servos de Deus entrarem. Ele riu compulsivamente de novo comentando com seu amigo. Saímos dali e mais uma vez estávamos presos no mesmo lugar. Não podíamos voltar para Zâmbia, e dessa vez a imigração já estava fechada há tempos, não entramos no Congo e o carro preso ainda no estacionamento. Saímos orando e começamos a caminhar em direção ao estacionamento, iríamos dormir no carro. No estacionamento o Gracia começou a nos seguir novamente. Parei e comecei a compartilhar mais uma vez o evangelho com ele. Falei de Jesus, expliquei o amor dele. Mostrei fotos da minha família, ele me mostrou da sua filha. Contamos casos, rimos um pouco e ele já estava mais calmo. Disse a ele que que ele era um jovem maravilhoso, sua filha era linda e um presente de Deus e que ele também era muito legal, e que agora eu era seu amigo. Ele ficou emocionado. Já apertava minha mão. Dei um abraço nele e disse para ele chegar em casa, fechar os olhos e pedir JESUS para entrar em seu coração. Ele me prometeu que iria fazer isso. Já eram 21hs e saímos em direção ao carro. Na saída, um homen que trabalhava no estacionamento nos chamou. Nunca o tínhamos visto antes, ele estava iniciando seu trabalho, no turno da noite. Ele me chamou e disse que tinha sonhado comigo um dia antes, e que eu estava junto com ele num avião. Ele estava me ajudando, eu de piloto e ele de co piloto. Perguntou o que estávamos fazendo e explicamos a ele. Orou conosco naquela hora, e compartilhou da palavra conosco. Já estava de noite e ele nos aconselhou a entrarmos no carro. Já tínhamos presenciado duas brigas nesse período de tempo, uma horrorosa com mais de 10 pessoas envolvidas e ele disse que era perigoso ficarmos fora do carro. Falou que mais tarde iria falar com a gente. Pegou uma caderneta e escreveu nossos pedidos de oração e foi para sua guarita orar. Mais ou menos umas 23:00 ele apareceu com outro irmão. Disse que o irmão ficaria guardando o carro pois todos já sabiam que o carro era nosso e se deixássemos o carro ali mesmo dentro do estacionamento seríamos roubados. Em seguida, nos levou até a fronteira do Congo e passamos a pé pelo portão da fronteira, nos levou para uma pousada, onde comemos e dormimos bem. Tiramos um tempo de oração e fomos dormir às 2:00 exaustos. O homem (Benjamim) que trabalhava no estacionamento da fronteira nos deixou lá, voltou para a fronteira pois estava no seu horário de trabalho de madrugada e voltou às 6:00hs da manhã para nos buscar e atravessar de volta conosco. Quando chegamos novamente no escritório da fronteira, o Gracia já estava lá dentro nos esperando. Ele estava bonito, com uma camisa nova, o rosto brilhava, com um sorriso enorme na cara. Logo que me viu correu ao meu encontro. Eu lhe dei um abraço e perguntei se ele tinha falado com Jesus à noite. Ele com olhos cheios de lágrimas respondeu que sim. Oramos juntos, de mãos dadas ali mesmo, no meio do escritório e ele recebeu JESUS em seu coração. Um dos funcionários da fronteira vendo isso me chamou num canto. Achei que ia me repreender. Ao contrário, disse que queria fazer aquela oração também. Aí foram chegando outros funcionários, primeiro duas mulheres, depois mais um homem. Começamos a orar, e Deus foi enchendo o lugar, em um minuto estávamos levantando um clamor ali, de pé, no meio do salão, em voz alta e com a participação de quase todos trabalhadores. O chefe ainda não tinha chegado. A partir daí, o Gracia pegou nossos passaportes e começou a tratar todo o processo para nós; até o xérox dos documentos ele pagou com o próprio dinheiro. Encaminhou todo o processo até a sala do chefe. Na sala do chefe, ele mesmo conversou com o chefe e contou o que tinha acontecido com ele. Testemunhou a nosso favor. O chefe ainda titubeou, dizendo que o visto que tiramos em Ndola era ilegal, que o cônsul tinha errado. Pedimos para orar por ele também, ele depois de relutar muito acabou deixando. Assim que terminamos ele carimbou nossos passaportes e devolveu nossos cartões de vacina que ele havia roubado. Aleluia!!!! Agora faltava liberar o carro, para o qual precisávamos de 4 documentos. O primeiro a nos atender, queria 2.500 dólares de garantia para liberar a passagem do carro. Disse que era só um depósito de segurança, que o dinheiro seria restituído na volta, mas sabíamos que não era verdade. Em resumo: tratamos tudo somente com a mensagem da cruz. Todos os homens que encontramos se renderam a mensagem do salvador e redentor: Cristo Jesus. Oramos e impusemos as mãos sobre todos, muitas das vezes com 2, 3 ou até mais funcionários juntos, de mãos dadas. Foi incrível. Na chancela de passagem, já dentro do carro, uma mulher que ocupa um alto cargo na imigração nos parou e pediu que eu orasse por ela também. Coloquei as mãos na sua cabeça e não consegui me controlar, chorei compulsivamente e finalmente conseguimos entrar no Congo. No primeiro quilômetro encontramos um posto de gasolina e paramos para tomar um café, estávamos morrendo de fome. Compartilhamos o evangelho com a dona do posto, ela aceitou e chamou seu marido. Abriram o coração para nós, ele com problemas de vício e álcool. Fizemos questão de anotar todas as vezes que fomos parados por policiais de Nampula até Kolwesi e somamos 28 abordagens de policiais nas estradas. No meio de uma blitz na estrada aconteceu o caso mais inesperado. Fomos parados no meio de uma estrada totalmente sem lei, num vilarejo. Dois policiais armados com metralhadoras nos pararam e pediram todos nossos documentos. Começaram a fazer inspeção no carro. Pediram o triângulo, macaco, extintor, para piscar faróis, buzinas e por último um deles pediu para eu apertar o botão de jogar água no pára-brisas. Apesar de tudo em perfeita ordem disse que nós estávamos com uma infração, que uma das luzes traseiras não acendia. Ao nosso lado passavam carros sem placa, com centenas de pessoas em cima, quebrados ,sem documentos, e nós parados ali. Os policiais estavam cheios de ódio, irmão Paciência (realmente com toda paciência) que se juntou a nós no Congo, tentava conversar com os policiais em francês. Paciência conversando e nós nem do carro descemos. Já se passavam uns 20 minutos. Os guardas já nervosos, gesticulando muito, falando alto com as metralhadoras na mão. Desci do carro e o clima já estava tenso. Falei para o Paciência avisar a ele que eu iria colocar a mão na sua cabeça e lhe dar algo valioso. Ele tirou o capacete, eu coloquei as mãos sobre a sua testa e comecei a orar por ele. Depois abri as suas mãos e derramei óleo. Orei por uns 4 a 5 minutos, em português mesmo. Assim que terminei ele me abraçou, me devolveu os documentos e nos disse: boa viagem. Partimos até Kolwesi e chegamos bem, na graça do nosso Senhor e Salvador JESUS, o rei de Moçambique, da Zâmbia e do Congo. No primeiro dia já vivenciamos coisas lindas na igreja congolesa também. Manifestações nas reuniões da igreja, libertação demoníaca e muita alegria com os irmãos. Fomos super bem recebidos. Paciência é um irmão sensacional, cheio do Espírito Santo. Estamos cansados mas alegres, dormindo no chão desde que chegamos mas todos estamos radiantes por tudo que experimentamos até aqui. O Malawi e a Zâmbia estão bastante à frente de Moçambique, mas o Congo consegue ser pior. Tudo muito caro, mais caro que Nampula. A quantidade de estrangeiros brancos é quase zero. Saímos na rua e todos nos olham. Todas as polícias nos abordam. Continuem em oração por nós irmãos. Orem pelo Gracia e pelo Benjamin. Na volta vamos promover o encontro deles com o Paciência para andarem juntos aqui em discipulado e comunhão. Também estamos fazendo a união de dois grupos de irmãos que se reúnem em casas. Hoje à tarde, ministrarmos um seminário sobre relacionamentos. Pela manhã já reunimos com alguns líderes locais. Quarta vamos a uma vila pouco alcançada fazer um trabalho de evangelismo. A batalha aqui é grande mas muito MAIOR é o nosso Deus. Firmes estamos no Senhor.
No amor de Jesus,
Pr.Cesinha