quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Casa Nutrir I



Olá people! Pensei em despedir do blog depois de tanta informação do nosso trabalho através do facebook, mas meu marido me convenceu a voltar a escrever. Então, cá estou para contar pra vocês sobre nosso trabalho mais recente e como tem sido a vivência do mesmo no dia a dia. Pra quem acompanha a gente, já sabe que agora estamos também trabalhando com crianças desnutridas. Mas o que é na prática trabalhar com crianças desnutridas em plena Moçambique aonde mais de 50% das crianças apresentam desnutrição crônica?
No começo confesso que sempre que encontrava uma criança em desnutrição aguda grave, eu levava dias para conseguir processar aquilo emocionalmente. Como assim um ser humano chegar naquele ponto? Após mais de quatro meses convivendo com essa realidade meu coração se compadece, mas já consigo ver além e pensar nas perspectivas que essa criança tem e como poderemos ajudá-la.
Apesar de atendermos crianças que apresentam desnutrição aguda nosso foco principal são as crianças com desnutrição crônica, ou seja, aquelas que passaram tanto tempo comendo menos do que precisavam que pararam de crescer. Para essas oferecemos vitaminas, ferro, leite em pó, farinha de milho e açúcar. Quinzenalmente pesamos e medimos essas crianças para acompanharmos de perto o desenvolvimento (ou não) delas. Até aqui parece bem assistencialista né? Parece não, é mesmo, mas é o que precisamos no primeiro momento. A partir daí, através de visitas e conversas educativas nos aproximamos da família com temas como higiene, alimentação saudável, planejamento familiar e o melhor de tudo, o Pão da Vida.  Afinal, o que adianta dar comida para uma criança se ela vive com diarreia porque a água que consome não é tratada?
Como esse post tá ficando longo demais vou parando por aqui. Aguardem as cenas do próximo capítulo. Enquanto isso divirtam-se com a foto que tiramos hoje na estreia do nosso mais novo saco de pesagem.
Até breve!

quarta-feira, 12 de março de 2014

Os quatro mosqueteiros


Para quem não sabe, são na verdade 4 e não 3. Da esquerda para direita Osvaldo, Chaúque, Muaziza e Paulino. Eles tem nomes um pouco exóticos como os daqueles outros 4 e são igualmente corajosos.
Um dos meus alvos para o segundo semestre de 2013 foi colocar no coração desses nossos 4 corredores o desejo de estudar, e em 2014 matricula-los numa boa escola. Os desafios eram vários. A idade deles variava entre 11 a 15 anos e eles nunca tinham colocado o pé dentro de uma escola. Os pais achavam que era melhor que eles ficassem em casa, pois assim poderiam ajudar no serviço doméstico e talvez conseguir algum dinheiro com bicos. Alguns não tinham certidão de nascimento ou nenhum outro documento que pudessem apresentar no ato da matrícula.
Muitas vezes, nas nossas aulas eu olhava pra eles e pensava:
- O que será que está se passando dentro da cabeça deles?
Que mistério esse do aprendizado! Uma "coisa" que se passa lá dentro e que não conseguimos "enxergar". Com o tempo eles foram tomando gosto pela "coisa" e começaram a sonhar junto comigo. Eles teriam que começar do primeiro ano, já que não tinham nada que comprovasse estudos anteriores. Mas nem o fato deles serem grandes e terem que estudar com crianças pequenas os assustava.
Aí vinha o outro capítulo, os pais. Tínhamos que conseguir o mínimo de comprometimento da parte deles, porque senão não adiantaria matricular os mosqueteiros, eles não se manteriam na escola. Nesse ponto nossa equipe foi essencial. Eles visitaram, foram até o cartório tirar documentos com os pais, revisitaram, conversaram e por fim... matricularam os quatro mosqueteiros.
E pra minha alegria completa, fui visita-los na escola um dia desses e eles estavam lá!
Quatro guerreiros, contra todas as estatísticas.
Eu amo meu trabalho.
Muito obrigada meu Deus!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

FÉliz 2014!

Oi amigos do blog!

   Quanto tempo sem escrever... Os que nos acompanham no facebook já conferiram as fotos das nossas maravilhosas férias. Teve Brasil, França, Portugal e Marrocos, tudo benção de Deus, como sempre imerecidas. O tempo com a família no Brasil foi delicioso e com certeza deixou muitas saudades. João até hoje quer voltar para o Brasil, mas as meninas já estão moçambicanas de novo.
   Nas nossas férias na praia saímos um dia com os três para tomar sorvete e brincar no PlayGui - os mineirinhos todos sabem aonde é, kkk- um daqueles lugares com jogos eletrônicos para crianças. Desculpem, mas o parênteses do meu teclado novo não está funcionando. Mal chegamos o João foi direto para aquela máquina que pesca bichinho de pelúcia. Como toda mãe que jogou aquilo a vida inteira e nunca pegou o tal bichinho eu falei:
- Brinca de outra coisa, esse aí a gente nunca pega.
- Mas mãe, eu quero pegar um para a Totória, eu consigo.
- Eu brinquei disso minha vida toda e nunca peguei nada. Esse dinheiro você poderia gastar com outros brinquedos, mas se você quiser, você é quem sabe.
João jogou e mais uma vez aquela bendita garra não pegou nada. Já fui logo dizendo:
- Vamos brincar de outra coisa.
- Não mãe, eu quero tentar de novo.
- Assim seu dinheiro para brinquedos vai acabar.
- Não tem problema. Eu quero dar esse presente pra minha irmã, vai dar certo.
- Então tá... - quem conhece o João sabe que ele tem grandes chances de ser advogado.
   E não é que na segunda vez o menino pegou o tal ursinho? Não sei quem ficou mais feliz, se foi ele ou eu que estava realizando meu sonho de infância.
   Essa experiência me ensinou muito e nesse começo de ano me ajuda a enfrentar os desafios com fé, crendo que o que para nós parece impossível pode ser possível.
   Muita gente ao ver a atual situação de Moçambique fala: isso aqui não vai mudar nunca! Mas eu quero ter a fé de uma criança e trabalhar crendo que o impossível pode acontecer. Que o Senhor nos ajude nessa caminhada de fé, pois é assim que ele quer que a gente viva.
 
   Então...FÉliz 2014 para todos vocês!

 
A foto não podia faltar, né?